"Ali Agca não agiu sozinho"
Markus Wolf, o espião sem rosto que dirigiu os serviços de informação da ex-RDA (Stasi), garante que Ali Agca não estava sozinho, quando, em 1981, disparou contra o Papa, em plena Praça de São Pedro. "Não acredito na versão do killer solitário. Planear um atentado contra um Papa é uma operação muito complicada, e que implica uma preparação da tal forma meticulosa, que só uma organização bem estruturada era capaz de o executar".
Numa entrevista publicada na edição de ontem do diário italiano La Repubblica, Wolf a desmente qualquer envolvimento da Stasi, adiantando que a colaboração solicitada pelos serviços búlgaros se limitou à contenção da campanha de desinformação que, nessa altura, foi lançada pelo Ocidente.
"O atentado não foi uma operação nossa", reafirma Markus Wolf, o super-espião que nunca chegou a ser fotografado pelos serviços ocidentais.
É certo que ao longo da entrevista, Wolf não exclui que o atentado possa ter sido encomendado pela Bulgária, como defendem alguns magistrados italianos, mas garante que a Stasi "não sabia de nada".
Já quanto às ligações entre os serviços búlgaros e o terrorista turco que disparou contra João Paulo II, Wolf é menos peremptório. "Houve um búlgaro que um dia me falou de Agca. Mas, nessa altura, as nossas atenções centravam-se na NATO e na RFA, não no Papa".
Bem diferente é, no entanto, a sua opinião sobre um eventual envolvimento do KGB e da ex- -URSS. "Conheci bem Iuri Andropov, que dirigia o KGB nessa altura, e que chegou a secretário-geral do PCUS. Sei bem o que pensava, e não acredito que tivesse pensado numa operação do género. Isso não fazia parte do seu quadro mental. E a hipótese de eliminação do Papa polaco seria mais contraproducente do que positiva".
Perante a insistência do La Repubblica, Wolf reconhece que João Paulo II constituía um problema para Bloco Leste, "mas não ao ponto de o eliminar." Só de o vigiar, tarefa a cargo de um informador da Stasi no Vaticano "um beneditino chamado Eugen Brammartz", que chegou a trabalhar com o cardeal Casaroli.
Armando Rafael